terça-feira, 13 de novembro de 2012

A paixão impossível.

   Que estava apaixonada ela sabia. E sabia que se apaixonar era como olhar no espelho meio com sono. Você não vê nada, apenas olha e acha que está tudo bom, e depois sai descabelada, dando vexame. De verdade, não está nem aí. Ele passava longe de ser lindo, mas ela só pensava nele em cada minuto do seu dia. Ele era romântico, audacioso. As vezes arrogante, as vezes tímido e meigo. Ela analisava aquele pluralismo de personalidade e suspirava. Um homem de verdade. Que sabe como conquistar uma mulher, que sabe o que dizer, e sempre na hora certa.
    Antes de embarcar para mais uma daquelas maratonas de shows, ele deu uma conferida no celular.Pela internet mais uma mensagem dela. Mas afinal, quem seria ela? Mais uma vez passou a imaginar como ela seria. Características físicas mesmo. Porque o que ela pensava, seus sonhos, seu modo diferente de dizer as coisas, ah, isso ele já conhecia bem!
    Ele no palco a emocionava, ela jamais teria coragem de chegar mais perto que isso. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Ele cantou a música nova. Ela ficou imaginando em quem ele pensava quando a compôs. Sonhou acordada que era para ela. Que era a musa merecedora de tanta paixão.
     As luzes quase impediam de ver a platéia. Estava na cidade dela. Provavelmente ela estava lá. Perto do palco, olhando para ele, cantando a música que ele jamais poderia confessar que fez para ela, aquela desconhecida que ocupava seus pensamentos e era a única que interessava entre tantas fãs. Foi para o hotel dormir, não sem antes olhar se havia alguma mensagem dela. Decepcionado ligou a tv e tentou se distrair.
     Ela voltou a pé para casa pensando em como era boba. Ela, uma pessoa comum, apenas mais uma naquela multidão. Pensou em pelo menos enviar um boa noite, mas aquela hora ele estaria no hotel, provavelmente com aquela que tanto o inspirava. Melhor ir para casa, dormir escutando a música dele, sonhando com ele, sua paixão impossível.

domingo, 11 de novembro de 2012

A grande escrivã.

     Acho que todos que acompanham e estavam morrendo de saudades da Suzana, já sabem que as amigas dela são sempre mulheres fortes, empoderadas. Assim também é a equipe quase que totalmente feminina da delegacia. Policiais escolhidas por competência, inteligência e amor ao trabalho. Hoje vou contar uma história de uma dessas grandes policiais.
     Suzana teve que ceder. Era o seu voto contra o de toda equipe. Ela queria a festa de confraternização de final de ano num bar onde a banda do seu namorado tocava. Como foi vencida, aceitou ir com os colegas em uma danceteria. Só de imaginar aquele tuch tuch já embrulhava o estomago. Ficaria feio demais não ir...foi. Sentou meio sem graça, pediu um refrigerante sem gelo porque já estava incomodada demais com o ar condicionado gelado. Ficou meio deslocada enquanto a galera se acabava de tanto dançar. E assim estava, quando viu a polícia militar invadir o estabelecimento. Junto com a polícia, conselheiros tutelares. Foram abordando todos os suspeitos e apreendendo todos os menores de idade. Ela não conseguia ouvir, mas de longe percebeu que um dos conselheiros falava com Michelle, uma escrivã da delegacia de Suzana. Parecia haver algo de errado, correu até lá para entender o que acontecia:
- O senhor está de brincadeira comigo!
- Eu não estou brincando mocinha, por favor, sua identidade ou terá que acompanhar os policiais e aguardar seus pais virem buscá-la!
- Como assim, meus pais?
- É proibida a permanência de menores em casas noturnas. Preciso realmente conferir se você tem dezoito anos. Agora, por favor, seu documento!
      A delegada achou engraçado demais para intervir, a escrivã que não era tão mais nova do que ela mesma, com seus "quase" um metro e sessenta e rostinho de menina, podia mesmo, na meia luz ser confundida com uma adolescente. Suzana chegou mais perto para ouvir a colega, continuar discutindo com o conselheiro.
- Mas eu não sou menor. Sou maior e já faz tempo que tenho muito mais que dezoito. Eu sou policial!
- Então a senhorita me faça o favor de me apresentar sua carteira funcional!
        Vermelha como uma pimenta, Michelle "sacou" a carteira funcional, o conselheiro nem teve a educação de se desculpar. Deu as costas, apenas, e foi importunar outra menina. Michelle percebeu que metade das pessoas que ali  estavam olhavam para ela. Entre essas pessoas, Rodrigo. Ele era um estudante de direito que sonhava em ser delegado de polícia. Tinha uma certa fascinação por policiais de rostinhos bonitos e personalidade forte como Michelle. Ele aproximou-se com um sorriso tão lindo, que na mesma hora Michelle esqueceu da raiva que havia passado. Suzana voltou para sua mesa. Adorava quando sentia aquele clima de romance no ar. Era apaixonada por essas histórias que começam no caos. Não a ponto de continuar aguentando aquela música. Discretamente, pegou a bolsa, o capacete e se mandou para o show do namorado. Suzana era assim, intolerante demais com música que não fosse rock, mas isso é bem fácil de entender...



* Para Danielle Alves.