quinta-feira, 25 de julho de 2013

Agora é só na base do empréstimo...

Razão de ser
                                  (Paulo Leminski)
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
                                                                 Tem que ter por quê?

domingo, 21 de julho de 2013

O texto a seguir foi copiado e postado com autorização da autora, Clarissa Côrrea



Já fugi de alguns lugares, pessoas e situações, mas nunca consegui fugir de mim. Posso já ter me ausentado, ter dito ei-volta-amanhã, ter trancado a porta, ter esquecido a chave do lado de dentro, ter deixado as luzes apagadas, ter perdido a hora, ter desligado o despertador, ter esquecido de esquecer, ter fingido um sono profundo ou uma preguiça boba, mas nunca soube fazer as malas e ir embora da minha alma.
Ninguém vai resolver a minha vida, pagar as minhas contas, me colocar no colo e dizer não-te-preocupa-que-vai-passar, me servir um chá com biscoitos, deixar a casa em ordem e a mente equilibrada. Se eu não arregaçar as mangas, der um suspiro fundo e andar para a frente a minha vida vai ficar empacada. Até o fim do mundo.
Não vou negar que por alguns momentos fiquei vendo momentos da minha vida passarem pela janela. E eu ficava ali, observando, atônita, paralisada, sem coragem de agarrar as oportunidades com determinação. Mas uma hora alguma coisa me chacoalhou por dentro, me balançou, me fez abrir os olhos e entender que tudo é passageiro. Hoje eu sou uma e amanhã posso ser outra. A gente vai aprendendo com o tempo, os dias, as marés. E esse aprendizado vira marca, vira tatuagem, vira história de vida.
Nunca quis que me vissem como a pobre garotinha indefesa. Tenho muita força, garra, vontade. Muitas vezes me perco no meio dessa teia de pensamentos, sonhos, anseios. De vez em quando não sei o que fazer pra sossegar o coração, aquietar a alma, tranquilizar a mente, que tanto me desassossega. Então pareço perdida num labirinto interno e secreto, tentando desesperadamente achar a saída mais próxima e me desfazer do que atormenta e aflige.
Carrego no peito todos os sorrisos e lágrimas que já distribuí. Levo na alma todos que me são fundamentais. Trago comigo as boas lembranças e algumas marcas e cicatrizes que não se desfazem com o passar do tempo. Sei que um dia tudo vai ficar mais claro, mais tranquilo, mais cheio de harmonia. E torço para que todas as pessoas consigam perceber que não importa o que elas façam ou da onde elas venham, no fundo somos todos iguais. Querendo ou não.
 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Lembranças de neve.

       Fiquei assustada quando fiz as contas. Dois anos e seis meses, eu era quase um bebê! Mas lembro tão bem que posso contar cada detalhe. Meus tios fazendo boneco de neve em cima do Corcel vermelho do meu pai. Aquela coisa geladinha caindo sobre meu nariz. Minha vó estendendo um tapete no gramado para neve cair e ficar limpinha e eu poder brincar...Eu e a Cris, que saudade me deu da Cristiane!
       Eu adorava a Cris, era minha companheira, com ela passava tardes e tardes cortando bonequinhas de papel, brincando de equilibrista em cima do muro ou nadando no tanquinho destinado à carpas e tartarugas no jardim de inverno da minha avó.
     Quando a neve cobriu todo o tapete, meio sem saber como brincar com a novidade, fomos fazendo castelinhos como na areia da praia. Delícia de brincadeira! Até que meus pes começaram a amortecer, e doíam tanto, tanto que eu já não podia andar. A Cris, assustada me levou para minha avó:
- Mãe, a Desi tá chorando de dor nos pés, acho que foi a neve que machucou os pes dela!
Então minha avó me colocou sobre o balcão da cozinha, ligou um aquecedor que era acoplado num liquinho e deixou meus pés esquentando enquanto forrava minha botinha de couro com jornal.
- É a umidade que faz congelar, vocês podem brincar mas precisam cuidar para manter o corpo todo seco, e agora quero que corram pela casa, até os pés voltarem a temperatura normal...depois podem brincar na neve.
     Gostaria que alguém tivesse filmado, provavelmente a neve pegou meu pai e avô desprevenidos...tiraram muitas fotos, mas só tenho em slides, acho que era moda na época, fazer slide de tudo...depois passar para as visitas, nas tardes de domingo, junto com as projeções de Super8. Salvamos alguns desses filmes, que meu pai passou para fitas de vídeo e depois para DVD. Coisa linda de ver, todo mundo cabeludo, usando boca de sino! Sem contar as grandes aventuras...meu pai, avô, primos, voando nos Auto Giros, engenhocas construidas por eles mesmos, que voavam milagrosamente depois de serem puxadas com uma corda amarrada ao carro. Tenho algumas imagens sensacionais feitas no Autódromo de Pinhais.
    Mas voltando a neve,tudo isso foi porque acabei de ler na internet, uma previsão de neve para Curitiba, na próxima quarta-feira. Acho que seria maravilhoso, depois de trinta e oito anos ver neve em Curitiba. Sabe aquele gostinho de infância? De vontade de sentar no colinho da minha avó, rir dos "causos" do meu avô, de comer uma lata cheia de botão de rosa e escorregar de meias no piso encerado... Acho que só me sobrou, fazer os botões de rosa e comer assistindo esses filmes dos anos 70. E torcer para que pelo menos uma vez na vida tenham acertado na previsão.

http://www.bandab.com.br/jornalismo/instituto-surpreende-e-preve-neve-para-curitiba-na-quarta-feira/



Dedico aos meus queridos avós: Azaury Marés de Souza, Ione Riesemberg Costa. E também em memória da querida (tia adotiva) Cristiane Costa de Souza.