Eu acho que as pessoas só são verdadeiras até a adolescência. Ontem, um aluno de doze anos fez uma comparação que achei genial, ele falou que a adolescência pode ser comparada com a gravidez, porque é cheia de fases. Não falei para ele, mas pensando muito sobre o assunto, acho que ele está coberto de razão, além das fases, é toda uma preparação e um medo da dor do parto, ou da passagem para vida adulta.
A adolescência de Ana e Suzana foi tão intensa, tão marcante, que por mais que as duas tivessem milhões de conquistas, a cada dia, fariam um esforço gigante para matar as meninas que um dia foram. Não por renegar o passado, muito pelo contrário, por amar demais um tempo que jamais voltará. Sofriam, choravam, mas acreditavam tanto no mundo e nas pessoas, que achavam que nunca seriam como os adultos. Tudo tinha mais graça e tudo tinha mais cor, até as coisas que odiavam, de certa forma, magicamente se transformava em romance.
Naquela noite, era a mãe de Suzana que parecia ser adolescente, estava toda empolgada, com o Show do Roberto Carlos, aquele que é igual todo ano mas mesmo assim emociona o pessoal da (velha) jovem guarda. Mal começou o show, Suzana delicadamente fechou a porta do seu quarto, para não escutar o que achava ser a coisa mais brega do mundo. Deitou e enfiou a cabeça debaixo do travesseiro, porque a mãe tinha aumentado o som da tv, era muita cafonice para Suzana aturar, até que o tal do Roberto começou a tocar uma música antiga chamada Outra Vez. Suzana não tendo como não escutar, prestou atenção na letra, e imediatamente começou a chorar, e soluçava tão alto, que até a mãe largou o Roberto na sala, e foi ver o que acontecia com a menina...Suzana inventou uma dor de cabeça, uma cólica, qualquer coisa era melhor do que confessar. No dia seguinte, com a amiga Ana, nem sabia contar o motivo do choro, mas Ana sentia, não precisavam de palavras, então apenas foram para velha varanda, contemplar as nuvens e rir de todas as coisas da vida, que sem explicação fariam ter um dia motivos para entender porque se tornaram grandes mulheres, com pés no chão e a incrível facilidade de recomeçar a cada dia.
sábado, 23 de junho de 2012
sábado, 16 de junho de 2012
Finado Amado
Finado Amado
A delegada Suzana
tinha um amigo chamado Roberval que vivia brigando com a esposa, principalmente
quando tomava seus traguinhos. A mulher tinha um olfato animal, ele mal passava
da porta e a velha gritava:
- Bebendo de novo,
Roberval!
E lá ia ela jogar o pobre Roberval para
fora do apartamento! Ele, sem família e sem outro lugar para dormir, humildemente
aparecia no apartamento de Suzana. Como ela não era de negar favor para amigo,
sempre acolhia o bebum. Então, Roberval todo animado já ia pedindo:
- Se não for pedir
demais, posso usar seu computador? Posso ver o que a velhinha tá fazendo e
falando, usando teu perfil?
- Claro, Roberval,
entra lá, você já tem minha senha mesmo, e olha, vai curtindo as postagens dos
meus amigos, se quiser, até comente, tenho uma preguiça pra essas coisas, mas
tenho medo que pensem que não tô nem aí pra ninguém...
Uma noite, na
internet, Suzana viu um compartilhamento muito sarcástico de uma amiga, foi
seguindo os comentários e acabou levando um susto, uma das pessoas que
comentava o post era um ex de Suzana e pelo que parecia, muito amigo desta
amiga. Suzana ,assim que leu o nome, sentiu todo ódio que um dia tinha sentido
por ele retornar em sua alma. Ela, não era daquele tipo totalmente
"politicamente correto" e as vezes, em suas investigações criminais,
utilizava um fake, para acompanhar na internet alguns suspeitos. Podia não ser
certo nem legal, mas Suzana achava que os fins justificariam os meios. O fake
era de uma linda mulher atraente, com foto e tudo. Uma bela armadilha para
conseguir tudo o que queria saber. Só de raiva, usando o fake, Suzana começou a
conversar com o ex pela internet. Teve mais ódio ainda pela vulgaridade do
cidadão, o cara simplesmente se achava, e pior, começou a contar histórias para
Suzana de todas as suas conquistas. Mulher para ele era apenas objeto de sua satisfação
pessoal. Suzana foi dando corda, e até dela ele falou. Foi o que bastou. Suzana
abominava violência, mas sempre fazia o que devia fazer. Estava pronta para
sair quando Roberval chegou, o hálito etílico já denunciava que não tinha onde
dormir.
- Vai Roberval,
vou dar uma saída rápida, já volto, você tá em casa, use o computador, espie a
patroa, pegue o que quiser na geladeira, eu volto logo.
Ela foi a
pé, usando o sapato que uma prima que pisava torto tinha deixado em seu
apartamento para doar. Colocou a peruca ruiva que havia comprado para
aquele fim. Tocou a campainha do apartamento, e mal ele abriu a porta já foi
entrando. Usava luvas de couro, mas ninguém estranharia, morava em Curitiba e
ainda estavam na metade de agosto.
- Você?
No dia seguinte,
na delegacia, Suzana recebe um telefonema, uma grande amiga, de muitos anos era
Investigadora de Polícia e trabalhava na Homicídios.
- Bom dia, Suzana!
- Bom dia,
Juliana! Ótimo dia!
- Ah, Su, não sei
se vai ser tão bom dia assim depois do que eu vou te contar...
- Conta logo,
menina!
- Lembra aquele
teu ex, o Gabriel? Ele foi assassinado Su, o corpo já foi pro IML. Eu fui lá,
na cena do crime, o próprio quarto do Sujeito, horrível, Su. Pensei tanto em
você. Sei de tudo o que ele te fez, mas mesmo assim, naquele lugar eu só
conseguia lembrar de você, teve uma hora que pareceu que eu estava até sentindo
o teu perfume. Nunca fiquei assim, acho que é a primeira vez que eu conhecia a
vítima.
- Nem sei o que te
falar, Ju. Quando aconteceu o crime?
- Ontem a noite. A
empregada chegou pela manhã e ligou para polícia. O cara era bem conhecido né
Su, já deve estar na imprensa. Uma tragédia, hein? Ah, mas mudando de assunto,
você não muda, ontem a noite quase morri de rir com seus comentários engraçados
nos meus posts. Que que deu em você, menina? Tinha bebido?
- Só um pouquinho,
amiga, só um pouquinho!
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