Que estava apaixonada ela sabia. E sabia que se apaixonar era como olhar no espelho meio com sono. Você não vê nada, apenas olha e acha que está tudo bom, e depois sai descabelada, dando vexame. De verdade, não está nem aí. Ele passava longe de ser lindo, mas ela só pensava nele em cada minuto do seu dia. Ele era romântico, audacioso. As vezes arrogante, as vezes tímido e meigo. Ela analisava aquele pluralismo de personalidade e suspirava. Um homem de verdade. Que sabe como conquistar uma mulher, que sabe o que dizer, e sempre na hora certa.
Antes de embarcar para mais uma daquelas maratonas de shows, ele deu uma conferida no celular.Pela internet mais uma mensagem dela. Mas afinal, quem seria ela? Mais uma vez passou a imaginar como ela seria. Características físicas mesmo. Porque o que ela pensava, seus sonhos, seu modo diferente de dizer as coisas, ah, isso ele já conhecia bem!
Ele no palco a emocionava, ela jamais teria coragem de chegar mais perto que isso. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Ele cantou a música nova. Ela ficou imaginando em quem ele pensava quando a compôs. Sonhou acordada que era para ela. Que era a musa merecedora de tanta paixão.
As luzes quase impediam de ver a platéia. Estava na cidade dela. Provavelmente ela estava lá. Perto do palco, olhando para ele, cantando a música que ele jamais poderia confessar que fez para ela, aquela desconhecida que ocupava seus pensamentos e era a única que interessava entre tantas fãs. Foi para o hotel dormir, não sem antes olhar se havia alguma mensagem dela. Decepcionado ligou a tv e tentou se distrair.
Ela voltou a pé para casa pensando em como era boba. Ela, uma pessoa comum, apenas mais uma naquela multidão. Pensou em pelo menos enviar um boa noite, mas aquela hora ele estaria no hotel, provavelmente com aquela que tanto o inspirava. Melhor ir para casa, dormir escutando a música dele, sonhando com ele, sua paixão impossível.
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