sábado, 28 de julho de 2012

Será errado amar demais?

      "Será errado amar demais? Se for, eu e a Suzana já nascemos erradas. Amo todos os que me cercam e até trabalho por pura paixão, meus adolescentes me encantam porque eu mesma nunca vou deixar de ser adolescente, em cada menina que me procura, pedindo apoio e consolo em suas angustias, reencontro a menina que um dia fui. Viver intensamente para mim é um dom natural, nunca consegui me acostumar com a mediocridade."

      Suzana, pela pequena janelinha do sótão, da casa de varanda, observa as pessoas passarem, escuta uma música que aperta o seu coração. Corre pegar caneta e papel, e escreve uma carta para Ana. Toda metódica, só usa a mesma marca de caneta, tenta fazer a melhor letra possível porque odeia reescrever. Ana, somente Ana consegue entender tudo o que ela pensa, faz, ama e sofre. Nem chega ao meio da carta e já está sorrindo, Ana tem esta magia, de mesmo a distância consolar Suzana. É engraçado como duas pessoas tão diferentes podem ter tanta sintonia. Queria poder abraçar Ana, porque está precisando de colo. Escuta a campainha e volta correndo para janelinha. Ana está no portão.
- Chorando de novo, Suzana?
- Eu chorando? Claro que não! Essa lente tá irritando meus olhos...
Ana conhece cada pensamento da amiga, então prefere se calar, sobem a escada do sótão e Suzana recoloca o disco, aumentando um pouco o volume. Deitam no chão de madeira polido por Suzana, Ana observa a ordem do quarto e resolve perguntar:
- Su, como você consegue deixar tudo tão impecável?
- De bagunçados chegam os meus pensamentos, Ana! Já pensou se meu quarto fosse tão doido como meu coração?
- O meu é...
- Você é um poço de contradições, Ana! Assim como eu. Vamos sair um pouco?
- Sei, dar uma voltinha...
- Hoje você está terrível! Sabe, eu estava pensando em ser jornalista, e você Ana, já se decidiu?
- Vou ser detetive, quero ter sempre uma arma na bolsa, acho que você deve ser jornalista mesmo, eu adoro as coisas que você escreve...
- Só você!
- Talvez porque eu seja sua única leitora!
- Eu dei umas poesias minhas para Bruna ler ontem...
- E ela?
- Disse que é uma droga, e que o professor dela falou que todo adolescente se acha poeta!
- Bem coisa da Bruna!
        Suzana fecha o cadeado do portão, fica alguns minutos olhando para o céu, Ana não fala nada somente observa, sabe que Suzana, na hora que achar que deve, vai contar o que passa em sua cabeça.
- Eu vi Ana!
- Viu o que?
-  Nosso futuro, bem distante. Você será a jornalista! E eu terei a arma na bolsa! Nossa vida será toda trocada, você vai chorar lágrimas que serão minhas, e eu é que vou te consolar, nossos destinos serão embaralhados.
- Deixa para lá, Suzana...hoje você está confusa demais até para mim! Por que eu haveria de chorar?
- Por amar demais, Ana!
- Não quero esse futuro não Suzana! Fica você com ele, e afinal, me explica amiga, agora ou no futuro, será errado amar demais?


Para Lylian Stinglin