sábado, 21 de março de 2020

Quarentena

Abri a boca e chorei a toa aqui.
A toa, não.
Chorei essa dor do mundo que faz o ar ficar pesado.
Faz os gatos amuados,
Sem vontade de brincar.
A gente esquece que tem rinite, e a cada espirro, o coração acelera, é de assustar.
Vê a temperatura porque o nariz trancou.
Sempre trancou. Mas agora...
Agora a solidão dói mais.
Agora que a rua está deserta
Ninguém pensa em festa.
A gente conta quantos sacos de feijão tem no armário.
Até tenta, jogar baralho.
Mas, cara, caramba.
A cabeça vai a mil
Não desguda do celular
Putz, quem previu?
Não quero desanimar.
Só mais um dia, só mais uma noite
Só mais sete, catorze, e poxa, vamos fazer poema.
Deus nos salva
E nos tira da quarentena.