terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O encanto da sereia.

Ele andava pela praia despreocupado. Estava de férias. Usava bermuda, camiseta e chinelos. Estava uma temperatura agradável. A água quente convidava para um banho de mar. Mas ele tinha ido lá pra pensar. Fazia alguns dias havia terminado um relacionamento. Já estava cheio de pessoas comuns e vazias. Não podia continuar com ela pra ter com quem conversar ou pior, para ter sexo garantido. Era isso. A maioria dos seus amigos, chegaram numa idade onde dava preguiça de sair pra balada, o emprego era estável, a conta do banco não preocupava muito. Então encontraram uma mulher, juntaram as escovas de dentes e só. Churrasco no domingo com amigos e familiares, televisão a noite depois do trabalho, joguinhos e redes sociais no computador ou celular. Isso não era vida.
    Ele queria algo diferente. Tentou falar sobre isso com um colega de trabalho. Parece que o cara não entendeu nada do que ele disse. Sugeriu um filhote de cachorro." Ele vai ser um bom passatempo, são tão amorosos, e precisam de cuidados também. Você e sua garota terão algo pra se ocupar. ..Foi o que ele respondeu.
    Melhor deixar pra lá. A namorada chorou, o chamou de monstro. Como podia? Agora que ela já fazia planos pro casamento? Depois de cinco anos juntos? Já tinha pensado na festa, até nos padrinhos...Não. Ele não prestava...
     Mas por que ele tinha que ser diferente? Porque não podia se acomodar? Por que tinha  que esperar e querer sempre mais de tudo? Não podia só trabalhar, transar, beber cerveja e reclamar do governo como todo mundo?  Assistir o jornal na tv e comentar na segunda feira tomando café na empresa sobre a gostosa da novela ou sobre a bunda da nova estagiária?
    As pessoas pareciam satisfeitas assim. Tolerando a sogra. Aguentando o cunhado. Dando  de vez em quando bom dia pro vizinho. Reunindo-se de tempos em tempos com colegas da faculdade. Rindo de velhas piadas.
    O gerente da empresa estava tendo um caso com uma das meninas da contabilidade.  Já era coroa, na casa dos cinquenta. A moça de vinte e dois anos, ainda estava na universidade. Era pouco mais velha que o filho dele. Ah, sim! Este era o assunto de todas as rodinhas do trabalho. Parecia que a diversão era fofocar sobre a vida dos outros...Será que só ele não dava a mínima pro babado do mês?
   Porque a vidinha comum que parecia tão doce a todos, a ele amargava os sentimentos?
   Porque só ele achava a vida uma grande merda?
   Parou de pensar um pouco, algo o distraiu. Um grande peixe saltou na água. A princípio, achou que era um golfinho. Subiu nas pedras para ver melhor. O peixe saltou novamente. Parecia enroscado em algo. Desejou como nunca ter mudado de ideia ao sair da pousada e ter trazido o celular com meia bateria mesmo...Aquilo daria uma boa foto... O peixe se aproximava cada vez mais da praia. Ele desceu das pedras, parecia não acreditar em seus olhos. Enrolada numa fina rede de pesca, uma criatura singular. A metade de cima de seu corpo era de uma linda mulher. Em baixo, uma grande cauda de peixe. Parecia desesperada. Se debatia na fina malha. Ele pegou no bolso o chaveiro do carro, onde tinha um pequeno canivete. Foi cuidadosamente cortando a rede e tirando por fim,  a criatura daquela tortura. Ela sorriu. Não falava, mas mentalmente parecia se comunicar com ele. Ele jogou a camisa e o chaveiro na areia e entrou com ela no mar. Mergulhou grudado naquela mulher incrível. Ela quase escorregava. Não era como tocar uma mulher comum. A pele fina e extremamente macia o excitava como nunca. Ele nem bem sabia o que estava fazendo. Nunca tinha estado com nenhuma garota que não tivesse duas pernas...Mas ela mergulhava e o conduzia. Ela sabia exatamente o que fazer.
     Ele não queria desgrudar dela. Quase lutou para não ser levado a praia novamente.  Já havia escutado histórias de sereias. Mas aquilo era fantástico demais. Nunca mais poderia esquecer do perfume daqueles longos cabelos, perfume encantador. Ou da magia de sentir a cauda se abrir e de ser sugado para dentro dela.
Ela era tudo o que ele sem saber, desejou. Mas agora ela já estava longe. Em algum lugar do mar. Escutaria para sempre em seus pensamentos aqueles cânticos gemidos.
    Ele comprou uma prancha. Todo e qualquer tempo que dispunha, passava no mar. A cada onda a procurava. Agora sabia porque era tão incompleto. Tudo o que ele mais  queria na  vida estava longe demais do seu alcance.

http://www.vagalume.com.br/ira/eu-quero-sempre-mais.html

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