Mesmo assim, Gutierrez levantou devagar, como se lutasse contra o cansaço dos últimos dias, e abraçou Suzana com força. Sem dizer uma palavra, a beijou com urgência e ternura — um gesto que carregava medo, alívio e saudade acumulada. Ela não resistiu. O nó em sua garganta se desfez por um instante.
— Achei que você estivesse morto — sussurrou ela, ainda envolvida em seus braços.
— Eu também temi por isso. Mas precisava sumir até entender o que estava acontecendo… e até provar que não era culpado.
Ele a guiou até uma cadeira, sentou-se ao seu lado e abriu uma gaveta antiga. De lá, tirou um diário encadernado em couro surrado, com páginas amareladas.
— Encontrei isto entre as coisas do meu avô, escondido dentro de um baú. Ele sempre falava do velho Zulmiro, o pirata que teria enterrado um tesouro em Curitiba e que assombrava o Setor Histórico. Achei que fosse apenas uma lenda de família… até ver os mapas e os códigos aqui dentro. Resolvi investigar enquanto me escondia. E quanto mais eu lia, mais percebia que talvez... esse tesouro realmente exista.
Suzana passou os olhos pelas páginas, cheias de anotações em caligrafia trêmula, símbolos náuticos e coordenadas parciais.
— E agora? — perguntou ela, tentando assimilar o absurdo e o real que se misturavam.
— Agora, preciso da sua ajuda. Quando sair daqui, vá até sua casa de praia em Pontal do Paraná. No depósito, pegue mais pás, lanternas, cordas, ferramentas, comida... tudo o que pudermos carregar. Essa jornada vai ser difícil, mas se eu estiver certo... vai mudar tudo.
Suzana assentiu em silêncio. Levantou-se devagar, os olhos fixos nele. Depois, parou à porta e olhou por cima do ombro, a voz carregada de emoção contida.
— Mas por que, Suzana? Por que você foi tão longe por mim, arriscou sua carreira, sua vida... por alguém que todos julgavam culpado?
Ela sorriu de lado, aquele sorriso que sempre aparecia quando não cabiam explicações simples.
— Eu sou assim, Gutierrez. Quem poderia entender?
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