A chuva fina tamborilava sobre o para-brisa do carro enquanto a delegada Suzana observava, pela terceira vez, a fachada da casa de Gutierrez, no bairro Mercês. Um sobrado discreto, de janelas verdes e paredes bege, que agora parecia guardar segredos além dos que ela já conhecia. Seu noivo e sócio desaparecera há três dias, e nenhuma pista concreta surgira — a não ser aquela intuição que a acompanhava desde os tempos de academia: Gutierrez estava vivo. E inocente.
Ela abriu o portão, ignorando o rangido enferrujado, e entrou. Parou diante da porta da cozinha, respirou fundo e tirou do bolso do casaco uma pequena chave dourada. A chave reserva que Gutierrez lhe dera meses antes, com um sorriso tímido e a frase: “Confiança também mora aqui.” Suzana girou a chave. A fechadura cedeu com um leve clique.
Dentro, tudo parecia em ordem, mas havia uma estranha marca no chão — como se algo tivesse sido arrastado.
Movendo o armário de mantimentos, revelou uma velha tampa de madeira. Suzana a ergueu com esforço, revelando uma escada de pedra escura, úmida, que descia até a escuridão. Seu coração disparou.
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